(Preparado por Gilson Barbosa)
“E o Senhor será rei sobre toda a terra; naquele dia um será o Senhor, e um será o seu nome”. Monarquianismo, patripassionismo ou sabelianismo são todos conceitos que expressam o intenso desejo e objetivo, ainda nos primeiros séculos da Igreja cristã, de combater o que seus defensores chamavam de triteísmo, referência ao reconhecimento de três deuses. Na tentativa de defender o monoteísmo, alguns apologistas da Igreja primitiva acabaram abandonando a doutrina da Trindade Divina: Pai, Filho e Espírito Santo, três pessoas que subsistem eternamente numa única divindade (unidade composta).Foi Teodoto de Bizâncio (cerca de 190 a.D.) quem primeiro ensinou que Jesus era apenas um ser humano movido e impulsionado pelo Espírito Santo. Em outras palavras, para ele, Jesus não era essencialmente e substancialmente Deus ou, sequer, conjugava as duas naturezas (humana e divina) em si (união hipostática). Esse ensino é chamado de “monarquianismo dinâmico”.Outros preferiram reconhecer a divindade de Jesus, mas o identificaram (o Filho) com o próprio Pai. Essa doutrina é conhecida, ainda hoje, como “monarquianismo modal” ou “patripassionismo”. A Enciclopédia histórico e teológica nos informa que “patripassionismo é a doutrina segundo a qual o Pai se encarnou, sendo Ele quem nasceu de uma virgem e quem sofreu e morreu na cruz”. Sabélio, bispo de Roma (séc. 3o), promoveu avanços no sistema modal ao ensinar a respeito de um Deus “processado”. No caso de sua doutrina, Deus teria se apresentado à humanidade de três formas: como Pai (Antigo Testamento), como Filho (Novo Testamento) e como o Espírito Santo (período da graça), mas esses “três seres” não estão separados em personalidades. Didaticamente, é como se um único e mesmo ator de teatro entrasse no palco por três vezes e em cada oportunidade trocasse apenas a máscara. Considerando esse brevíssimo panorama histórico, podemos pensar no texto de Zacarias: “Naquele dia, um será o Senhor”. No idioma hebraico, existem duas palavras para exprimir a noção de “um” ou “único”. Quando as expressões bíblicas do Antigo Testamento apresentam “um” ou “único” no sentido absoluto, fazem uso do termo yachid: “E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque...” (Gn 22.2). Note que Isaque tinha um irmão, Ismael, mas é chamado de único, devido à promessa está relacionada apenas a Abraão e Sara. Contudo, há uma unidade que chamamos de composta, expressa pelo termo hebraico echad: “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne” (Gn 2.24). Pois bem, o que os unicistas têm de considerar antes de advogarem sua doutrina a partir de Zacarias é justamente isso: o profeta faz emprego da palavra echad, unidade composta, e não de yachid, unidade absoluta.
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