(Por Paulo Cristiano, do CACP)
Temos vivido nestes últimos meses um verdadeiro frenesi social e religioso motivado pela vinda do atual papa Bento XVI ao Brasil. Mas não se trata apenas de uma visita formal. Dentro dos objetivos de Joseph Ratzinger (nome real do papa), que inclui participar da “5ª Conferencia Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe”, está o de reavivar a velha e utópica esperança de combater o avanço do que chamam de as “seitas evangélicas”. Contudo, o verdadeiro motivo que está arrebatando os ânimos católicos é a inédita canonização do primeiro “santo” brasileiro – o ex-franciscano Frei Galvão.
Frei Galvão ficou famoso pelas suas “pílulas milagrosas”, às quais são atribuídos vários milagres. As pílulas são bastante simples: confeccionadas de papel arroz num canudinho contendo uma oração a Maria em latim.
Depois do anúncio da data de canonização aumentou em 50% a procura pelas tais pílulas, de 60 mil, a produção mensal do “santo remédio” saltou para 90 mil e, junto a isso, o consumo de imagens praticamente esgotou os estoques. No entanto, nosso objetivo neste pequeno artigo não recai em focar tais questões, mas antes discorrer sobre como se dá a “fabricação” de um santo.
Como se faz um santo
Frei Galvão ficou famoso pelas suas “pílulas milagrosas”, às quais são atribuídos vários milagres. As pílulas são bastante simples: confeccionadas de papel arroz num canudinho contendo uma oração a Maria em latim.
Depois do anúncio da data de canonização aumentou em 50% a procura pelas tais pílulas, de 60 mil, a produção mensal do “santo remédio” saltou para 90 mil e, junto a isso, o consumo de imagens praticamente esgotou os estoques. No entanto, nosso objetivo neste pequeno artigo não recai em focar tais questões, mas antes discorrer sobre como se dá a “fabricação” de um santo.
Como se faz um santo
Não pense que para galgar o status de santo dentro da igreja católica é tão fácil assim. Não! Para que um fiel possa figurar nos altares das igrejas romanas é preciso percorrer um longo caminho. Esse processo se chama “canonização” e demanda tempo, política e muito dinheiro, conforme veremos.
Canonizar é o ato pelo qual a igreja declara em estado de santidade o já falecido fiel católico. Após esta declaração do papa, ele pode ser objeto de adoração ou, como dizem, de veneração dos fiéis.
Foi Sisto V quem organizou o sistema moderno de canonização, e o confiou à Congregação dos Ritos, órgão da cúria romana.
O primeiro santo canonizado de forma solene foi o bispo de Augsburgo, Ulrich (santo Ulrico), morto em 973 e proclamado santo por João XV, no Concílio de Latrão, em 993.
Mas antes do fiel ser canonizado, ele precisa receber a beatificação, a partir do que já é admitido o culto público à sua pessoa, embora com algumas restrições.
O processo é o seguinte: a etapa inicial de investigação é conduzida pelo bispo local, que nomeia um postulador da causa, espécie de advogado de defesa (para defender as causas dos santos brasileiros aqui no Brasil esse trabalho ficou por conta da freira Célia Cadorin), e um promotor da fé – o famoso "advogado do diabo" – que irá vasculhar a vida do santo, tentando achar algum erro, tanto em questões morais ou doutrinárias. Reunido o material e comprovada a fama de santidade do indicado, os autos são encaminhados a Roma. Cabe ao papa proclamar solenemente o novo "beato". No processo, são exigidas provas da realização de pelo menos dois milagres. Estes milagres apesar do rigor vaticanista às vezes deixa a desejar na sua investigação. A conhecida Madre Teresa de Calcutá, beatificada pelo papa João Paulo II, recebeu a beatificação pelo milagre da cura de um câncer no estômago efetuado em uma mulher indiana. O problema é que o médico que tratava da doente disse que ela não tinha tumor algum, mas sim, tuberculose, tratada com medicamentos (Época, 27/10/03). Não podemos esquecer também que muitos ditos “santos”, foram assassinos, tais como José de Anchieta e Inácio de Loyola, hereges como Afonso de Ligório e outros até nunca existiram como acreditam muitos.
Além disso, são gastos milhares de dólares durante todo o processo. Por exemplo, a canonização de Madre Paulina chegou a consumir cerca de 100 mil dólares (Veja, 06/03/2002).
O Lobby organizado pela arquidiocese de São Paulo em prol da beatificação de Frei Galvão custou a bagatela de 95.000 reais. Fora isso, foram 20 viagens ao Vaticano, 7028 relatos de cura, 2702 partos felizes, 332 curas de problemas nos rins, 123 conversões para uma vida de virtudes, e mais 13744 outras graças (Veja, 11/12/1998) Ufa! Como é trabalhoso virar santo!
Entretanto, algo que nos chama a atenção é que estes santos, enquanto vivos não realizavam milagres, mas, depois de mortos, disparam a conceder graças de todos os tipos. Isto não é no mínimo curioso?
Bento XVI com vistas ao maior pais católico do mundo que ainda não tinha um santo nacional, resolveu agora nos últimos anos, investir pesado no país e cumprir uma ambiciosa promessa de seu antecessor que certa vez chegou a declarar que o Brasil precisava de muitos, muitos santos (Isto É, 18/12/91).
E a igreja católica no Brasil se afina no mesmo diapasão tentando criar seu próprio panteão nacional.
Depois de Frei Galvão e madre Paulina, a próxima é a irmã Dulce. A candidata já tem um milagre e o seu processo já está em estudo, há mais ou menos cinco anos, no Vaticano. (Época, 24/03/2004). Também foi reaberto o processo de canonização do padre Cícero Romão Batista, o “Padim Ciço”. É notório a todos que este controvertido personagem ligado à história do povo nordestino não foi nenhum “santo” quando vivo, mas que agora, pode se transformar em um deles, por causa da insistência dos fiéis.
Finalmente, cumpridas todas as etapas do processo, o papa invoca publicamente a ajuda divina e a canonização é celebrada com toda pompa, na basílica de São Pedro. Posteriormente, é marcado um dia para celebrar a memória do santo.
A imagem é a alma do negócio
Depois de resolvido o caso da beatificação, começa o marketing em cima das imagens dos “santos”. Uma imagem que não apresenta um visual contextualizado com as tendências da época precisa ser modificada para ficar mais atraente à devoção popular. Cada vez que a teologia católica muda, muda também o visual das imagens. Assim como o rosto de Jesus, a imagem de Maria passou por uma grande transformação. Por exemplo, nas pinturas da renascença ou do barroco, Maria é retratada como uma mulher da época, com contornos corporais de mulher, seios fartos amamentando o menino Jesus. Hoje, Maria é mostrada toda coberta e praticamente sem seios. Mais alguns exemplos típicos são as imagens de Madre Paulina e do índio Juan Diego. O retrato da santa mostrava uma jovem muito séria. Já a versão recente e oficial vai mostrar a madre amparando uma criança, de forma a parecer mais maternal e protetora. Por sua vez, o tal índio mexicano, que teve a suposta visão da Virgem de Guadalupe, é retratado com feições espanholas e não de um aborígine.
É digno de nota que o mariano João Paulo II foi o papa que mais canonizou “santos” na história do catolicismo, chegando a 1.790 beatificações e canonizações, durante o seu pontificado. A última novidade de Wojtyla até o momento de sua morte foi canonizar a pediatra italiana Gianna Beretta Molla, a primeira santa casada da história do catolicismo romano (Veja, 26/05/04; Isto É, 26/05/04).
Sem apoio bíblico
Apesar das apaixonadas defesas católicas a respeito da suposta legitimidade bíblica para esta doutrina, ela enfrenta sérias objeções que gostaríamos que o leitor, católico ou não, refletisse desarmado de quaisquer preconceitos.
Primeiramente, a doutrina católica sobre os santos esbarra no bom senso, na lógica e na teologia. Ora, se os santos católicos atendem de fato as orações de seus milhares de devotos, isto implicaria que eles possuem o atributo da onisciência, coisa que é impossível ao ser humano, pois só Deus a possui. Só Deus pode atender várias orações ao mesmo tempo, pois isto é intrínseco à sua divindade. A menos que os católicos não queiram considerar seus santos como semi-deuses como faziam os pagãos, eles precisam negar tal atributo aos seus santos.
Ademais, a doutrina dos santos postula também que tais personagens podem interceder pelas pessoas, mas neste particular também a doutrina católica esbarra na doutrina paulina da mediação exclusiva de Jesus junto a Deus. Só Jesus é nosso intercessor (1Tm 2.5). O próprio processo da mediação desenvolvida pela igreja romana, reflete não uma realidade divina, mas a realidade da própria instituição católica que sempre foi pautada pelo monarquianismo, onde os status e funções sempre estiveram definidos hierarquicamente.
Em face disso tudo, concluímos considerando que muito mais poderia ser dito aqui sobre a questão, o que poderia nos levar a escrever um livro. Todavia, nosso objetivo esteve em mostrar que a doutrina católica dos santos não faz parte do tesouro doutrinário da igreja cristã. O conceito de santidade não pode ser modificado ao nosso bel prazer. Santos são todos aqueles que entregaram suas vidas a Jesus Cristo e agora participam de sua santidade. Não depende da autorização de nenhuma instituição religiosa. Essa doutrina católica é invenção posterior, moldada mais pelo sincretismo religioso com as religiões pagãs e instituições seculares do que fruto de piedosa reflexão cristã.
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