quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Resposta aos posicionamentos ateístas de Michel Onfray

(Por: *Pr. Weber Firmino Alves)

Conta-se que certo cientista, apegado a seus pressupostos ateísticos aferrou para si o objetivo de provar empiricamente que a crença em Deus era uma influência da sociedade sobre o indivíduo, ou como diz Onfray na sua entrevista, “não há nada no cérebro além daquilo que é posto nele” e que “Deus e a religião são invenções puramente humanas”. O curioso cientista resolveu então educar uma criança recém-nascida em um ambiente totalmente livre da idéia de divindade, um lugar onde ela seria ensinada, mas nunca ouviria sequer o nome “Deus”. Será que existe este lugar? Ele resolveu então, isolá-la de ambientes nos quais recebesse influência de outros homens. Aquela seria a pesquisa prática de sua vida. Os anos se passaram e a criança cresceu e ainda no ápice da adolescência nunca ouviu falar de qualquer tipo de deus. Porém, em dada fase o pesquisador observou que havia um horário, no qual o jovem saía assiduamente. Resolvendo segui-lo às ocultas o cientista o encontrou num alto monte prostrado, clamando sobre uma pedra aos céus: - “Oh Grande Criador! Tu que fizeste todas as coisas, revela-te a mim porque eu desejo te conhecer!”.Diferente do que diz Onfray, a idéia da divindade não é uma criação do homem, mas pressupõe a existência de um Deus. A idéia de Deus, tal como a idéia de tempo, espaço, número, causa e efeito, bem e mal, é uma verdade primária ou fundamental, visto que se caracteriza por universalidade, necessidade e auto-evidência (AGUIAR, 1999, p. 46). O conceito de um criador é presente em todo o universo, é necessário para compreendermos alguns fatos fundamentais da vida, e também brota naturalmente no íntimo do homem, independendo, muitas vezes, de argumentos iniciais. Onfray afirma na sua entrevista que “a necessidade de Deus é cultivada culturalmente”, mas uma observação acurada da história comprova que não há um povo, cultura ou etnia, no qual a idéia da divindade – mediante o politeísmo ou o monoteísmo, esteja completamente ausente. Na sua entrevista concedida à revista Veja, Michel Onfray nega a existência de Deus em nome do que ele chama da liberdade do homem. No entanto, conforme demonstrado acima pelo Rev. Claudionor, mesmo com a suposta inexistência de Deus, a liberdade humana “não é assim tão livre”, visto que a vontade do indivíduo não é neutra, como parece afirmar “inocentemente” Onfray. Segundo Onfray, a liberdade humana é restringida de dois modos: *Pelas restrições preceptivas de Deus, pois os religiosos “odeiam o corpo, os desejos, a sexualidade...”. Onfray está fazendo referência certamente aos preceitos bíblicos que proíbem práticas como homossexualismo, incastidade etc. Entretanto, sob este mesmo ponto de vista, a liberdade humana também seria incompatível com a idéia de casamento e amor, pois muitas vezes homens casados – até mesmo ateus, abstêm-se de determinadas práticas (como o adultério) em nome do amor que sentem pelo cônjuge. Desta forma, um impulso que sobrevêm é subjugado pelo amor, e sua liberdade também é restringida. Se a liberdade humana é incompatível com a existência de Deus, também o é com a existência de qualquer outro ser, pois muitas vezes a liberdade do homem é restringida pela existência do próximo. *Pela providência de Deus que, conforme Onfray, é incompatível com a liberdade humana. A Bíblia Sagrada, estabelece de fato que há um Deus que governa o mundo e tudo o que nele há. Entretanto ela deixa claro que o indivíduo é responsável por suas próprias ações, e que o ponto de partida para suas ações não pode ser o plano de Deus, já que o homem não o conhece. Berkhof (2001, p.101) diz: “Os decretos divinos não são dirigidos aos homens como uma regra de ação, e não podem constituir uma regra assim, visto que o conteúdo deles só se torna conhecido pela sua realização, e depois desta”. A nossa experiência prova que colhemos dadas conseqüências porque nós mesmos tomamos determinadas atitudes, sem sentir qualquer coerção.Como destacou, em forma de indagação, o Rev. Claudionor, a abordagem de Onfray é extremamente preconceituosa. Quando, por exemplo, ele afirma que os questionamentos à religiosidade feitos pelo homem levam, invariavelmente, à conclusão chegada por ele, a saber, que Deus não existe. A isso ele chama de “razão, com R maiúsculo”, cujo uso “é a missão […] de todo filósofo que se dê ao respeito” (p.14). Isso é preconceito puro! O que se dizer acerca de filósofos reconhecidos mundialmente que acreditam em Deus?Aristóteles e Aquino já haviam afirmado a existência de “Deus” a partir do argumento da causa impulsora. René Descartes, filosofo racionalista - considerado por Jostein Garder (2004, p.253) como o fundador da filosofia dos novos tempos e primeiro construtor de um contemporâneo e coerente sistema filosófico, afirmava a existência de Deus a partir do que se chama “argumento teleológico”, isto é, o homem, que como ser pensante existe, tem a idéia de um ser perfeito, o qual, para de fato possuir os atributos da perfeição precisa existir. “…a noção de um ser perfeito tinha de vir, naturalmente, de outro ser perfeito […] um ser perfeito não seria perfeito se não existisse”. Descartes dizia, portanto, que a idéia de Deus é inata ao homem, tal “como a marca que o artista coloca em sua obra” (DESCARTES apud GAARDER, 2004, p. 258).O filósofo empirista Berkeley dizia que “só outro espírito pode ser a causa das idéias que formam nosso mundo material” e que “tudo vinha do espírito ‘onipresente, por meio do qual tudo existe’” (GAARDER, 2004, p. 304). Ele estava pensando em Deus.O filósofo protestante Kant, sob outro ponto de vista, afirmou a existência de Deus. Ele realmente acreditava que isso era impossível se provar pela razão, mas apenas pela fé, o que chamava de “postulado prático”. Kant dizia: “é moralmente necessário supor a existência de Deus” (KANT apud GAARDER, p.354).Com todas as convicções que tenhamos diferentes em alguns pontos defendidos por estes filósofos – e nós mesmos temos alguns, é extremamente prepotente a afirmação de que eles não se deram respeito como filósofos ou que sua razão, neste ponto de vista, não possuía “R” maiúsculo, inclusive porque os próprios Aristótoles, Aquino e Descartes estabeleceram argumentos racionais para provar a existência de Deus pela razão pura.A prepotência e o preconceito definitivamente não desaparecem das idéias de Onfray quando ainda afirma que “a idéia da criação divina é uma espécie de doença infantil do pensamento reflexivo”, e que “a crença em Deus só serve, justamente, para as crianças” (p.15), comparando inclusive com as lendas de Papai Noel, lendas folclóricas e contos de carochinha. É fato indubitável que o que leva alguém (seja ele um leigo, filósofo ou religioso) a acreditar em Deus é totalmente diferente daquilo que leva uma criança a acreditar nestas lendas.Como se não bastasse tudo isso, as contradições dos textos bíblicos apresentados pelo “grande” filósofo mais lido na França só existem na cabeça do próprio Onfray. O sexto mandamento, que diz “Não Matarás” (Ex. 20.13), faz parte do que costumamos chamar de aspecto moral da Lei de Deus e era dirigido a todos os homens como “os princípios morais eternos de Deus para suas criaturas morais”. A lei de Êxodo 21.15, por outro lado, faz parte do aspecto civil da Lei que autoriza, não o indivíduo, mas o Estado de Israel como nação a exercer o direito à pena capital pela quebra de um mandamento de Deus: honrar pai e mãe. Hilário mesmo é a interpretação literalista e bélica que Onfray faz à seguinte frase de Jesus: “...não vim trazer paz, mas espada” (Mt. 10.34). É claro no contexto que Jesus não estava ordenando aos discípulos que se armassem com espada e se preparassem para a guerra, mas estava falando sobre as conseqüentes dificuldades que seus seguidores enfrentariam dentro de sua própria casa. Esta interpretação fica esclarecida pelos próprios versos seguintes (vv.35-39).Por fim, Onfray subestima demasiadamente a natureza humana, afirmando que a filosofia disponibiliza ao homem “a apreensão do que é o mundo, do que pode ser a moral, a justiça, a regra do jogo para uma existência feliz entre os homens, sem que seja preciso recorrer a Deus…” (p.15). Esta esperança, não é muito diferente daquela que possui os homens na virada do séc. XIX para o séc. XX. A chegada do iluminismo trouxe aos homens a esperança que os problemas de moralidade, educação, saúde etc. seriam resolvidos com a razão e a ciência. A humanidade estava diante de um grande progresso, diziam eles, pois tinha em mãos a ciência que traria solução para os mais diversos problemas experimentados pelo homem ao longo de sua existência. A interpretação dialética da história proposta por Hegel e a teoria darwinista foi logo aplicada à utopia do progresso e os homens esperavam melhoras.A proposta de Comte era sair da era teológica, presente nas sociedades primitivas e avançar para a era positiva, fundamentada na razão e na ciência. Logo esta falsa esperança caiu por terra, diante das duas grandes guerras mundiais que o homem promoveu no começo do último século, inclusive, fazendo uso da própria razão e ciência. O problema moral do homem não é resolvido pela ciência ou pela filosofia, mas apenas por Deus, pois ele é o Criador e o Legislador da humanidade. A Bíblia não alimenta esta esperança utópica no homem: “[…] não há justo, nem um sequer”. Por mais que a filosofia ajude, ela sozinha nunca resolverá o problema moral do homem, pois o homem é pecador. A história revela a quantidade de filósofos extremamente imorais e que chegaram até mesmo a dar cabo de suas próprias vidas.Sinceramente, não se pode entender o que leva alguém a procurar forças onde não se tem para provar que algo que não existe “realmente não existe”. Se Deus realmente não existe, então porque tanto esforço para provar que Ele não existe? E se é assim tão simples, porque a turma ateísta de Onfray, incluindo filósofos do passado como o alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), não conseguiu definitivamente provar e convencer a humanidade que Deus não existe? Certamente a Escritura tem toda razão em dizer: “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus” (Sl. 14.1).
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Por Weber Firmino AlvesBel. em Teologia, Licenciando em LetrasPastor da Congregação da IEC El-Shaddaiem Esperança-PB

BIBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. Trad. João Ferreira de Almeida. Edição Revista e Atualizada. São Paulo: Cultura Cristã e SBB, 1999.BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, 720 p.GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia: Romance da história da filosofia. São Paulo: Cia das Letras, 2004LANDERS, John. Teologia Contemporânea. São Paulo: Juerp.SEVERA, Zacarias de Aguiar. Manual de Teologia Sistemática. Curitiba: A.D. Santos Editora, 1999, 490 p.

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