sexta-feira, 30 de abril de 2010

O reino deste mundo



Escândalo no Distrito Federal mostra que políticos evangélicos continuam caindo em tentação


Por Valter Gonçalves Júnior

Depois que a “Operação Caixa de Pandora”, da Polícia Federal, revelou, no fim de novembro de 2009, as entranhas do governo de José Roberto Arruda (ex-DEM) no Distrito Federal, as palavras “panetone” e “oração” ganharam novos significados. Quando Arruda disse que os R$ 50 mil que aparece recebendo em vídeo seriam para comprar o tradicional pão natalino para os pobres, em Brasília “panetone” virou imediatamente sinônimo de corrupção. No segundo caso, criou-se a expressão “oração da propina”. É que as imagens chocantes de dois deputados de Brasília orando com Durval Barbosa – ex-secretário de Relações Institucionais do governo Arruda e incumbido de distribuir o dinheiro do esquema – foram capazes de dar até ao momento sagrado da conversa com Deus uma outra conotação. E políticos identificados como evangélicos mais uma vez estiveram no meio de um escândalo.

Os deputados da Câmara Distrital Leonardo Prudente (ex-DEM) e Rubens Brunelli (DEM), que aparecem no vídeo, negam que naquele momento estivessem, como veiculado pela imprensa, agradecendo a Deus pela propina do que ficou conhecido como “mensalão do DEM”. Mesmo assim, o contexto é inegavelmente dos mais comprometedores (ver box). Para a advogada Damares Alves, que há dez anos é assessora jurídica da Frente Parlamentar Evangélica na Câmara dos Deputados, situações como essa tendem a repetir-se. O problema, explica, é muito mais grave do que parece. Está na raiz da representação evangélica no Congresso Nacional e nas assembleias legislativas e câmaras municipais. “O crente é corruptor. Os próprios pastores e crentes corrompem os políticos”, lamenta a assessora, atribuindo parte do problema à enormidade de pedidos de favores e de dinheiro que chegam aos parlamentares eleitos com apoio das igrejas, numa versão evangélica do velho clientelismo brasileiro. “É a política do ‘toma lá dá cá’. É tanto pedido, os deputados são tão cobrados por sua base, que acabam sendo induzidos a isso. Não que os políticos sejam inocentes ou ingênuos”, reconhece. “Mas o deputado recebe voto e depois tem que pagar até lua-de-mel do filho do pastor. E como atender esses pedidos? Enquanto isso não mudar, veremos escândalo sobre escândalo”, afirma Damares.

Ao contrário de parlamentares que representam grandes segmentos sociais e econômicos, que têm suas campanhas eleitorais custeadas por doações mais robustas, os evangélicos, apoiados por redes de pequenas igrejas, já tomam posse pensando em como vão pagar suas dívidas de campanha e manter a base que os elegeu. A saída acaba sendo o clientelismo e a troca de favores, que muitas vezes envolve dinheiro público. Damares observa que esses políticos – que são, na origem, “geralmente um pastor ou um advogado pobre” – acabam sacrificando princípios para manter seus mandatos. “Os parlamentares vão alimentando isso ao longo dos anos”, diz. Em consequência, os evangélicos, quase sempre, ironicamente, integrantes do chamado “baixo clero” do Legislativo, são alvo fácil para os lobistas que circulam em Brasília oferecendo as mais variadas vantagens.

Prova disso, diz a assessora, é o escândalo dos sanguessugas, de 2006. Não por falta de aviso, o caso terminou por atingir metade da bancada evangélica do Congresso Nacional, então de 68 parlamentares. Confessando-se “angustiada”, Damares diz permanecer como assessora parlamentar da frente evangélica por ver nesse trabalho uma espécie de ministério, no qual analisa e dá pareceres a projetos de lei que afetam diretamente princípios ligados à vida. Por mês, diz ela, são analisados mais de 50 projetos diretamente relacionados a temas de preocupação dos cristãos. “Nestes 20 anos de bancada, deveríamos ter avançado muito mais na questão ética”, lamenta. “O que me deixa muito triste é que enquanto isso há tantas frentes, tantas batalhas em defesa da vida e da família. Precisamos, no mínimo, de 100 parlamentares cristãos no Congresso para cuidar de questões como liberdade religiosa, exclusão social, opressão dos pobres, abandono de idosos, aborto, eutanásia, dependência química e tantas outras”, enumera, lembrando que também assessora a Frente Parlamentar da Família e Apoio à Vida.

Omissão da Igreja – O extenso vocabulário da corrupção tem renovação garantida no Brasil. Cada escândalo traz consigo o dom de mudar o sentido das palavras a ele relacionadas, garantindo assim um novo estoque de piadas – forma encontrada pela população desde a época do Império para expressar seu descontentamento. No caso do uso indevido de cartões corporativos do governo federal, por exemplo, a “tapioca” ficou celebrizada. No caso dos “sanguessugas” – em que parlamentares incluíam emendas no Orçamento para beneficiar a empresa Planan, da família Vedoin –, até a palavra “ambulância” ganhou outra conotação. A lista é longa. Mas “oração da propina” é um termo muito doloroso para os crentes. “O que mais me indignou foi que tudo isso serviu para as pessoas quebrarem o quarto mandamento e usarem o nome de Deus em vão”, diz o presbiteriano Renato Amorim, que sofreu com as gozações no ambiente de trabalho: colegas com quem convive há anos repetiram várias vezes a chamada “oração da propina”, na íntegra.

“Senti-me totalmente desrespeitado e desautorizado”, diz ele, que participou de um dos protestos em frente à Câmara Distrital para exigir o afastamento de todos os envolvidos com o escândalo. Servidor do Superior Tribunal de Justiça, Amorim, que se prepara para fazer na França um doutorado em ciências políticas, disse que iria à manifestação mesmo se o escândalo não atingisse a Igreja Evangélica, como a seu ver atinge. “O escândalo evidenciou a concepção de que é possível agir por meios escusos, obscuros, e sacralizar isso por meio de orações, cultos ou dízimos”, observa. Ele também lamenta que, mesmo chamuscados, os evangélicos em geral tenham se omitido. “A Igreja sofre paralisia. Mesmo quando atacada, como foi nesse caso, ficou totalmente muda, não se defendeu como instituição”, critica. Quanto aos políticos crentes, Amorim diz não se sentir representado por eles, em quem não votou. “Não consigo identificar uma ação efetiva dos evangélicos no campo da política. Eles pensam de maneira religiosa, mas isso é um erro. Pensar em termos políticos significa pensar no quê, como cristaos, podemos conceber de bom também para os que não abraçam a fé”, diz Amorim. No seu entendimento, ao não conseguir dialogar adequadamente com o Estado laico e secularizado, os evangélicos deixam escapar o conceito de “justo” para todos os segmentos da sociedade. “Só se pensa no que é pecado ou não, mas nem isso de maneira séria. Uma concepção política que tenha como meta simplesmente alcançar o poder está fadada ao fracasso”, sentencia.

Um dos coordenadores do movimento Evangélicos Pela Justiça (EPJ), o crente batista Geter Borges tenta reverter a situação. Seu grupo tem acompanhado a tímida reação das igrejas ao escândalo e enviou carta aos pastores de todas as denominações indagando o que pensam sobre a conjuntura política no Distrito Federal. O texto sugere que os evangélicos assinem um manifesto e se mobilizem para pedir o afastamento imediato de todos os envolvidos nas denúncias. “O problema não é ter corrupção no campo evangélico. As pessoas estão sujeitas a mudar de rumo e se afastar da ética. O problema é a omissão diante desse fato, o que termina legitimando isso”, afirma Geter. Para ele, as igrejas devem se manifestar contra a corrupção “de forma massiva”. A cultura evangélica de afastamento das questões sociopolíticas, na sua opinião, contribui para o silêncio em relação à corrupção, assim como aos demais problemas do país. Por outro lado, diz, “a partidarização contamina a Igreja com a cultura de partido”, comprometendo sua voz profética. “A igreja deve lutar contra a cultura do ‘rouba mas faz’ e do ‘bobo é quem é honesto’. E não deve manipular a opinião dos membros e nem comercializar o voto de seus adeptos”, prega.

Geter salienta que o caso Arruda mostra que há um problema estrutural a ser enfrentado: a independência com que agem os políticos depois de eleitos, só prestando contas à população a cada quatro anos: “O eleitor tem como única alternativa esperar o dia da eleição chegar e trocar os representantes, que depois irão agir da mesma forma”. Ele lembra que o afastamento do governador depende da Câmara Distrital, também atingida pelas acusações, e aponta para a morosidade do Judiciário. “A gente precisa enfrentar esse elemento estrutural. Sem isso não vai conseguir avançar na democracia”, declara ele, que trabalha como assessor parlamentar da bancada PT na Câmara dos Deputados.

Resgate ético – O pastor Isaías Lobão, professor de teologia e atualmente membro da Igreja Presbiteriana de Cruzeiro Novo, em Brasília, vai na mesma linha. E não mede palavras. “Se a gente for olhar a prática das igrejas, a gente não é crente, não. A ética dos evangélicos não tem sido diferente da mundana. Esses grupos neopentecostais, especialmente, se adaptaram ao pior da cultura brasileira. Não é novidade”, afirma. “A chamada ‘oração da propina’ pode não ter sido diretamente relacionada ao pagamento da propina em si, mas agradecia pelas bênçãos que vinham através do Durval”, salienta, sublinhando o argumento de uma suposta “perseguição” é sempre evocada pelos crentes colhidos em situação escandalosa.

Isaías pede atitude “mais protestante’ e critica o silêncio da maioria das igrejas, o que para ele sugere cumplicidade. O pastor aponta ainda a “omissão dos bons”, que permitiria que o espaço na mídia, na política e na sociedade seja tomado por pessoas sem representatividade e despreparadas. “A quem esses deputados representam?”, indaga. Além disso, rebate a “teologia duvidosa ou truncada” dos envolvidos em escândalos, na maioria ligados à teologia da prosperidade. Segundo observa, ao estilo do velho catolicismo, repete-se com frequência o versículo “não toqueis nos meus ungidos” para evitar o debate crítico. “Mas a Reforma protestante tornou o pastor não um sacerdote intocável e infalível, mas um docente, alguém que ensina a Palavra e deve vivê-la”. Por outro lado, diz, a Igreja tem abandonado as suas marcas, dentre as quais a disciplina aos que cometem erro. Para Isaías, resgatar a ética não é uma batalha perdida, mas depende da mobilização individual, em todas as denominações, para pressionar as lideranças. E diz ser preciso fugir do pragmatismo fácil da adaptação acrítica à cultura brasileira e democratizar as igrejas, que hoje contam com líderes autocráticos, que não admitem críticas e contestações. “Falta lastro doutrinário com a reforma, que coloca a Bíblia como guia de fé e prática”, conclui.

Suspeitos preferem o silêncio

As igrejas não tiveram uma reação única à divulgação, em dezembro, da chamada “oração da propina”, em que dois deputados oram com Durval Barbosa, pivô do escândalo no Distrito Federal. Em grande parte, elas não tomaram posições públicas. Quando o vídeo foi divulgado, a católica Confederação Nacional dos Bispos do Brasil e a Igreja de Confissão Luterana do Brasil condenaram os envolvidos no episódio. No dia seguinte, em nome da Ordem dos Ministros Evangélicos do Gama, cidade-satélite do DF, o pastor Osesa de Oliveira entrou com um pedido de impeachment contra o governador José Roberto Arruda e o vice Paulo Octávio, e de afastamento dos deputados Leonardo Prudente, da Igreja Sara Nossa Terra, e Rubens Brunelli, da Igreja Casa da Bênção, bem como dos demais acusados no inquérito da PF.

Ex-secretário do Trabalho do governo do Distrito Federal – cargo que deixou em julho –, o bispo e fundador da Igreja Sara Nossa Terra, Robson Rodovalho, que também é deputado federal, não foi citado no inquérito que acusa o governador e vários de seus assessores. Rodovalho, que era do DEM, hoje está no PP. Por meio de nota, a Sara Nossa Terra declarou repúdio a “todo desvio ético e a toda forma de corrupção”. O texto afirma que, no caso dos religiosos envolvidos no escândalo, “o dano é maior porque cabe a eles ser luz do mundo e sal da terra”. Lembrando que Rodovalho não foi implicado “nem indiretamente” nas investigações, sua assessoria de comunicação disse à revista CRISTIANISMO HOJE que o bispo “tem compromisso com a Palavra de Deus e com os valores do Reino de Deus”.

Além disso, a assessoria declarou que Leonardo Prudente foi da Sara Nossa Terra, mas nunca teve nenhum cargo de liderança. Prudente foi flagrado escondendo na meia dinheiro recebido de Durval Barbosa. Mesmo assim, segue como presidente da Câmara Distrital. Rubens Brunelli, por outro lado, recebeu apoio da Igreja Casa da Bênção, que chegou a divulgar que o deputado estava, na verdade, orando pela justiça e contra a corrupção no DF. Segundo o pastor Caio Fábio D’Araújo Filho, hoje radicado em Brasília e dirigindo a igreja Caminho da Graça, Brunelli o procurou para negar que, na chamada “oração da propina”, estivesse agradecendo por ter recebido dinheiro de corrupção.

Procurados por meio de sua assessoria, os deputados, que voltavam do recesso parlamentar e terão a missão de julgar o pedido de impeachment contra Arruda, não responderam à reportagem de CRISTIANISMO HOJE.

O governador José Arruda é o principal suspeito investigado pela Caixa de Pandora

A Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, revelou em detalhes como a corrupção se tornou prática comum na política do Distrito Federal. Escutas autorizadas pelo Superior Tribunal de Justiça e transcritas em extenso inquérito mostram o governador José Roberto Arruda negociando abertamente com assessores a distribuição de dinheiro proveniente de contratos superfaturados. Os pagamentos eram feitos pelo então secretário de Relações Institucionais do governo do DF, Durval Barbosa, que colaborou com as investigações em troca da delação premiada e já operava desde o governo anterior, de Joaquim Roriz.

De acordo com o inquérito, entre os beneficiários do esquema estariam o govenador, o vice Paulo Octávio, grande parte dos deputados distritais – incluindo o presidente da Câmara, Leonardo Prudente –, além secretários de governo, empresários, donos de jornais e até membros do Ministério Público do DF. Em sua defesa, Arruda, desfiliado do DEM, disse que a aparelhagem da PF estava com defeito. Além das escutas autorizadas da PF, alimentam o escândalo horas de fitas de vídeo gravadas em 2006 pelo próprio Durval. Em resposta à cena em que aparece recebendo R$ 50 mil, Arruda disse que o dinheiro seria usado para compra de panetones para os pobres.

Tragédia anunciada

“Deputado, eu quero abençoar a sua igreja e seu trabalho social”. Assim o empresário Darci Vedoin, dono da Planam, e seu filho Luiz Antônio abordavam parlamentares evangélicos em seus gabinetes. E simpáticos, como quem não quer nada, muitas vezes doavam dinheiro e ambulâncias fabricadas pela empresa. Corria o ano de 2003 e, desconfiada, a assessora jurídica da Frente Parlamentar Evangélica, Damares Alves, advertiu com insistência os integrantes da bancada contra a estranha abordagem dos Vedoin. Ela falou com assessores e deputados, antes mesmo de saber que o Ministério Público (MP) estava com o caso na mira. Ao ter confirmadas as suspeitas, Damares reforçou os avisos. “Fiz uma maratona. Fui aos gabinetes. Eles todos foram orientados. Senadores e deputados”, relembra.

A estratégia do empresário consistia em negociar com parlamentares a inclusão de emendas no Orçamento da União para a compra de ambulâncias. Para levar a comissão no negócio, os próprios parlamentares se transformavam em agentes da Planam, fazendo lobby junto a prefeitos para que, nas licitações, terminassem por comprar as ambulâncias da empresa. No fim, os Vedoin, em troca da delação premiada, entregaram à Polícia Federal e ao MP uma extensa lista com os nomes dos políticos que entraram em seu esquema. Na bancada evangélica, foi um estrago. Nem mesmo com os avisos de Damares os parlamentares deixaram de aceitar a “bênção” dos Vedoin. Em 2006, quando explodiu o escândalo, a bancada foi dizimada. Dos 68 integrantes, 34 foram acusados pelo MP de envolvimento com a máfia das ambulâncias. Como numa corrente, um parlamentar havia puxado outro para o esquema.

Pastores Voadores


Desafiando a crise, líderes evangélicos brasileiros investem na compra de aviões particulares

Dizem que um homem pode ser medido pela grandiosidade dos seus sonhos. Se é mesmo assim, um seleto grupo de ministros do Evangelho anda sonhando alto – literalmente.

Dizem que um homem pode ser medido pela grandiosidade dos seus sonhos. Se é mesmo assim, um seleto grupo de ministros do Evangelho anda sonhando alto – literalmente. Desde o ano passado, diversos pastores brasileiros andam cruzando os céus em aviões próprios, um luxo antes somente reservado a altos executivos, atletas milionários e sheiks do petróleo. A justificativa para as aquisições, algumas na faixa das dezenas de milhões de dólares, é quase sempre a mesma: a necessidade de maior autonomia e disponibilidade para realizar a obra de Deus, o que, no caso dos grandes líderes, demanda constantes deslocamentos pelo país e exterior a fim de dar conta de pregações e participações em palestras e eventos de todo tipo. Eles realmente estão voando alto.

O empresário e bispo Edir Macedo, dirigente da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) tem feito a ponte aérea Brasil – Estados Unidos a bordo de um confortável Global Express, avaliado no mercado aeronáutico por US$ 50 milhões (cerca de R$ 85 milhões). Para comparar, o preço é semelhante ao do Rafale, o caça-bombardeiro francês que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sonha comprar para as Forças Armadas brasileiras. Equipado com sala de estar, dois banheiros, minibar e lavabo, além de um confortável sofá, o jato permite deslocamentos dos mais confortáveis até os EUA, onde Macedo mantém residência, e tem autonomia suficiente para levá-lo à Europa ou à África. O Global, adquirido em setembro numa troca por um modelo mais antigo, veio juntar-se à frota da Alliance Jet, empresa integrada ao grupo Universal e que já possuía um Falcon 2000 e um Citation X, juntos avaliados em 40 milhões de dólares.

Edir Macedo justifica o uso de aviões particulares dizendo que precisa levar a Palavra de Deus pelas nações onde a igreja atua, que já são mais de 120, e também para evitar transtornos aos passageiros dos aviões comerciais, pois sua pessoa costuma atrair muita atenção da mídia. Pode haver também outros motivos. Foi em voos particulares que a Polícia Federal descobriu, em 2005, que deputados e empresários ligados à Iurd transportavam dinheiro em espécie, no episódio que ficou conhecido como o caso das malas. Os valores, explicou a igreja na época, teriam sido arrecadados nos cultos e eram transportados dessa maneira por questão de segurança e praticidade até São Paulo e Rio de Janeiro, onde a denominação tem sua administração.

Já o missionário R.R.Soares, mais discreto que o cunhado Macedo, não fez alarde da aquisição do turboélice King Air 350, em novembro, fato noticiado pela revista Veja.. Avaliado em cerca de R$ 9 milhões, a aeronave transporta oito passageiros. Como tem uma agenda das mais apertadas, Soares viaja praticamente toda semana pelos mais de mil templos que sua Igreja Internacional da Graça de Deus tem no país, além de realizar cruzadas e gravar programas diários para a TV. Ele realmente tem pensado alto: a igreja também mantém parceria com a empresa de aviação Ocean Air, através da qual um percentual sobre cada passagem comprada por um membro da Graça reverte para a denominação.

“Conquista” – O que chama a atenção no aeroclube dos pastores são as justificativas espirituais para a compra das aeronaves. Renê Terra Nova, apóstolo do Ministério Internacional da Restauração em Manaus (AM) e um dos grandes divulgadores do movimento G12 no Brasil, conta que o seu Falcon é fruto de profecias de grandes homens de Deus como o pastor e conferencista americano Mike Murdock. Em abril de 2009, durante um evento em que ambos estavam, Murdock incentivou uma campanha de doações a fim de que Terra Nova pudesse realizar seu “sonho”. Após chamar Terra Nova à frente, ele mesmo anunciou que ofertaria R$ 10 mil reais, atitude logo seguida por dezenas de pessoas. O avião foi comprado em julho. Dizendo-se “constrangido” com a atitude, Terra Nova admitiu que aquele era seu desejo e que se submetia ao que considerava a vontade de Deus. “O Senhor é testemunha que este avião não é para vaidade, mas para estimular que outros ministérios a que também tenham aviões e, juntos, possamos voar para as nações da terra, pregando o evangelho de Jesus. Assim está estabelecido”, diz o líder em seu site.

“Conquista” e “resultado da fé” também foram as expressões usadas pelo pastor Samuel Câmara, da Assembleia de Deus de São José dos Campos (SP), para comemorar a compra de seu King Air C90, de quatro lugares. O religioso, que durante anos liderou a Assembleia de Deus em Belém (PA) – onde montou a Rede Boas Novas, conglomerado de rádio e TV que cobre vinte estados brasileiros –, se diz muito grato a Deus pela bênção, avaliada em R$ 8,5 milhões. Ele espera juntar-se a outros líderes para montar “uma esquadrilha de aviões para tocar o mundo todo”. Ano passado, Câmara também esteve no noticiário pelas denúncias que fez contra supostas irregularidades nas eleições para a presidência da Convenção Geral das Assembleias de Deus (CGADB).

Mas a aquisição aérea que mais chamou a atenção, dentro e fora do meio evangélico, foi concretizada pelo famoso pastor e apresentador de TV Silas Malafaia, da Assembleia de Deus da Penha, no Rio. Possuir uma aeronave própria era um objetivo anunciado pelo líder já há algum tempo, inclusive em seu programa Vitória em Cristo, um dos campeões de audiência na telinha evangélica. Além dos insistentes pedidos por ofertas para manter-se no ar, Malafaia constantemente tocava no assunto avião em suas falas. O empurrão que faltava foi dado pelo pastor americano Morris Cerullo, outro profeta da prosperidade proprietário de um luxuoso Gulstream G4. Num dos programas, levado ao ar em agosto, Cerullo admoestou os telespectadores a desafiar a crise global e participar de uma campanha de doações ao colega brasileiro – um chamado “desafio profético”, no valor de 900 reais, estipulado graças a uma curiosa aritmética que associava a cifra ao ano de 2009.

Aparentemente surpreso, Silas Malafaia assentiu com o pedido. Não se sabe quanto foi arrecadado a partir dali, mas o fato é que em dezembro o pastor anunciou que o negócio foi fechado por cerca de US$ 12 milhões, cerca de 19 milhões de reais. Trata-se de um jato executivo modelo Cessna com pouco uso. Um “negócio espetacular”, na descrição do próprio. Bastante combatido pela maneira ostensiva com que pede ofertas para seu ministério, o pastor Malafaia, que dirige também a Editora Central Gospel, recorre à consagrada oratória para se defender: “Quem critica não faz nada. Você conhece alguma coisa que algum crítico construiu? Crítico é um recalcado com o sucesso da obra alheia.”
(Fonte: Cristianismo Hoje)

domingo, 25 de abril de 2010

O PASTOR QUE VIROU MUÇULMANO

Na segunda semana de janeiro fui surpreendido com uma notícia angustiante: “Pastor da Assembleia de Deus se converte ao islamismo”. Fiquei chocado! Triste, angustiado, revoltado... Enfim, fiquei sem entender. Passados alguns dias desde que essa notícia se tornou pública e correu o Brasil, resolvi me manifestar.

Vamos aos fatos.

O senhor João de Deus (esse é o seu nome próprio) era funcionário público (banco do Brasil) e iniciou a sua vida ministerial na Assembleia de Deus da cidade de Itabaiana, interior da Paraíba a mais de 20 anos atrás. Por volta do final dos anos 90, juntamente com um grupo de pastores saiu da Assembleia de Deus Missão (como é denominado aqui nessa região as igrejas ligadas a CGADB) e se filiou a Assembleia de Deus Ministério de Madureira, com sua sede no bairro do Cristo Redentor. Em pouco tempo alguns destes pastores que foram para a Assembleia de Deus de Madureira, formaram ministérios autônomos ligados a Convenção Nacional de Madureira, inclusive João de Deus que fundou a “Assembleia de Deus Ministério de Madureira, campo Deus é fiel”.

A filha de João de Deus, segundo consta, se mudou para Dubai, Emirados Árabes, e lá se casou com um árabe muçulmano bem abastado financeiramente. Ao visitar sua filha, voltou com algumas ideias diferentes. Segundo membros da igreja, quando ainda era o pastor da igreja proibiu o irmãos a exercerem os dons espirituais, o que causou um esfriamento na igreja – segundo relatos de irmãos desta referida igreja.

Antes deixar a liderança da igreja (a informação que foi passada para a igreja é que ele iria morar com a filha em Dubai, e por isso estaria entregando a direção da igreja), João de Deus, firmou um acordo no qual receberia uma quantia de dinheiro por 36 meses (uma espécie de indenização). Porém, ainda não havia se declarado muçulmano (embora já o fosse no coração). Quando passou a igreja a outro pastor, então declarou-se muçulmano. Os irmãos da igreja se sentem traídos, pois, no mínimo ele agiu de má fé ao firmar esse acordo financeiro já sendo muçulmano.

Bem, estes são os fatos que são largamente conhecidos na cidade de João Pessoa, inclusive por uma carta feita pelo próprio João de Deus e lida na sua antiga igreja.

Bem, então vejamos:

Conheci João de Deus já no campo Deus é fiel, participamos de algumas reuniões na associação de pastores da cidade. Também nos encontramos no treinamento do Projeto Minha Esperança, onde ela era o representante da Convenção de Madureira na Paraíba. A impressão que tive dele foi a de um homem de pouca expressão, pouco carisma, e de pouca argumentação bíblica (digo argumentação no sentido de ter base para se criar um argumento sólido e clareza nas posições), fruto de uma hermenêutica pobre e com muitas lacunas. Ainda há aqueles que o conhecem bem e dizem que na verdade ele não foi seduzido pela doutrina islâmica, mas pelos “petrodólares” oferecidos a ele depois que ele se tornasse um líder muçulmano.

A verdade é que João de Deus apostatou da fé, pois nega a divindade de Cristo, a sua volta iminente, a Trindade, e assim como Alexandre e Demas, que, como disse Paulo, amou o presente século, nos tem causado muitos males (2 Tm 4.10,14). João de Deus foi um obreiro inexpressivo, de palavras inexpressivas e posso dizer sem convicção. Pois na sua entrevista para um jornal da cidade ele disse que sempre teve problemas com a data do Natal ser 25 de dezembro! Ora, qualquer crente sabe que tanto faz a data que se comemora o nascimento de Jesus, pois o que importa é o dia em que Ele veio ao nosso coração e mudou a nossa vida. O que importa é que um dia Deus interveio na história humana e enviou o Seu Filho para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16).

Quando passar essa surpresa inicial, ele continuará sendo uma pessoa inexpressiva e o campo que ele enganou e abandonou, com a graça de Deus crescerá (o que não aconteceu quando ele liderava), ele será esquecido e a igreja seguirá caminhando, pois disse Jesus: “...sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).

(Ver notícia:Pastor Presidente da Assembleia de Deus de Madureira na PB se converte ao Islamismo)

Eduardo Leandro Alves

Secretário Executivo de Missões da AD na Paraíba

www.adpb.com.br

eduardoleandroalves.blogspot.com